sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Poemário



A palavra do poemário de hoje era MILAGRE.
O frio que se tem feito sentir deve ser inspirador, pois tivemos muitos poetas a participar :)
Eugénio de Andrade, Miguel Torga, Sophia, Walt Whitman, Albert Einstein (?)...
O eleito foi: José Saramago, trazido pela Inês Rodrigues
Um belíssimo poema, sem dúvida. 



Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.  



A palavra para o próximo poemário:  ALEGRIA.

sábado, 14 de janeiro de 2012

REcriar

Este é o lema!



A ideia, para este período, é a seguinte:

Escolhem um poema. Qualquer poema. Daqueles que vos fazem mexer as entranhas, as emocionais e as racionais. Um poema que faça pensar, sentir.
Se não for um poema, poderá ser uma notícia, uma crónica.


A partir desse poema/notícia/crónica, criam um texto vosso. Refletem. Passam para o texto as emoções e os pensamentos que vos atravessaram. Recriam.

Escolham, igualmente, uma imagem (podem fotografar ou desenhar, também) que ilustre o sentido daquilo que expressam por palavras.


A título de exemplo: duas crónicas minhas, inspiradas pelo Sermão de St. António aos Peixes. O registo, no caso, tende para o humor.

http://nolimiardaspalavras.blogspot.com/2007/12/deus-antnio-e-as-sardinhas.html

http://nolimiardaspalavras.blogspot.com/2008/01/vieira-o-polvo-e-morte.html


BOA CRIAÇÃO!!!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Poemário

Primeiro poemário de 2012!!!!!!!



A palavra era Inverno. E para começar o ano com fartura, foram lidos cinco poemas, foram escolhidos dois!
Fernando Pessoa contribuiu com a sua própria riqueza, em qualidade e número: foram escolhidos um poema de Pessoa, ortónimo, e outro da Alberto Caeiro.

A Carolina trouxe, de Alberto Caeiro:


Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno —
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar —
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa



A Diana trouxe este poema, que também conquistou o auditório :)



Cai amplo o frio e eu durmo na tardança
De adormecer.
Sou, sem lar, nem conforto, nem esperança,
Nem desejo de os ter.

E um choro por meu ser me inunda
A imaginação.
Saudade vaga, anónima, profunda,
Náusea da indecisão.

Frio do Inverno duro, não te tira
Agasalho ou amor.
Dentro em meus ossos teu tremor delira.
Cessa, seja eu quem for!
19-1-1931
Fernando Pessoa


A próxima palavra: MILAGRE.