quinta-feira, 14 de maio de 2009

Tentarei de novo amanhã...


À medida que o meu cavalo cavalgava pela floresta fora, a fraca luz do dia dissipava-se através das árvores e o crepúsculo dava lugar à noite cerrada.
Eu? Eu travava uma batalha interior com os meus ideais. Parte de mim desejava simplesmente fugir desta situação, deixar tudo para trás, simplesmente, poder virar as costas a tudo e a todos. O fardo que suportava tornara-se, a cada dia que passava, mais pesado e eu sentia que estava perto do ponto de ruptura. Era como se eu, uma mera humana, tivesse sido incumbida de segurar o planeta enquanto o gigante Atlas tirava férias da sua antiquíssima função. O peso do mundo descansava sobre os meus ombros. As esperanças dos que ansiavam a liberdade, as mortes dos que lutaram por essa liberdade, os destinos dos prisioneiros, os pequenos conflitos que me competiam resolver formavam continentes e oceanos que me faziam sucumbir sobre o seu peso esmagador. Certamente isto não era tarefa para um simples ser humano. A grandeza das minhas decisões ultrapassava-me. No que me pareceu ser um instante, a minha vontade de retaliar, a maneira como não me queria conformar com o que me era imposto tornou-me chefe da rebelião. Ao recordar-me daqueles momentos em que, apaixonadamente, incitava os outros a insurgir-se contra os opressores que nos sufocavam não pude deixar de reparar nas diferenças na minha voz. Naqueles primeiros tempos ela adquiria a força de um rugido feroz e indignado sempre que me deixava levar pela minha mal contida revolta contra esta forma de viver, se é que se pode chamar viver ao que nós fazíamos. Não. O que nós fazíamos era sobreviver.
Agora sentia que já não poderia gritar mais, argumentar mais, lutar mais, esperar mais. Cada vez que falava o meu tom denunciava a fadiga da luta, a crescente falta de esperança, a frustração de não alcançar os resultados que pretendia. Sabia perfeitamente que a cada dia que passava acreditava menos na conquista da minha liberdade, da liberdade do povo ao qual pertencia. No entanto, tentava manter a ferocidade e a esperança no meu rosto para que aqueles que combatiam lado a lado comigo continuassem a acreditar, mesmo quando as minhas forças me atraiçoassem ou a coragem me faltasse e eu simplesmente desaparecesse. No fundo, o que eu estava a tentar fazer era criar um mito, uma mentira. Tentava que quem me observasse visse sempre em mim uma líder forte e destemida, cuja determinação nunca oscilasse por mais adversas que fossem as situações. Um mito. Uma fachada.
No meu interior a esperança parecia ter-se dissolvido no cansaço, deixando apenas desespero no seu lugar.
A revolta continuava a transbordar do meu peito, mas agora o meu desalento parecia querer impedi-la de se tornar material, de se tornar acção, de se tornar luta.
Sentia-me rouca por dentro.
Neste exacto momento não tinha de fingir ser mais nada do que eu mesma. Apenas o cavalo me impelia para a frente.
O cansaço abatia-se sobre mim.
O trote regular do cavalo ecoava pela floresta arrastando-me para a inconsciência.
Com as poucas forças que me restavam fiz o cavalo parar.
Da inconsciência, o sábio ancião chamava-me dizendo-me:
“A coragem nem sempre ruge. Às vezes é a voz sossegada no fim do dia dizendo Tentarei de novo amanhã.”
“Tentarei de novo amanhã” - sussurrei.
O luar despertou-me com a sua luz.
Olhei para a lua por um momento infinito e senti-me mais desperta do que nunca.
Rendendo-me ao meu lado lunar montei e comecei a cavalgar o mais depressa que o meu cavalo me permitia pela floresta adentro.
“Liberdade…” – sussurrei.
“LIBERDADE!!!” - gritei para que todo o mundo pudesse ouvir.



Paula Portela, 12ºB

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

É um bom pensamento o que nos trazes, Paula.
à partida, pode dar a sensação que a mensagem aponta para um eterno e improdutivo adiar. Mas não. O que nos trazes é o contrário de um pensamento derrotista: é a convicção de que devemos sempre tentar, um dia depois do outro.
Muito bem!

:)