"Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis."  
Carlos Drummond de Andrade
" A felicidade, como o amor, só é ridícula antes ou depois de si própria."
José Luís Peixoto
Muitos
 tentam descrever o amor usando hipérboles e metáforas elaboradas, 
outros resumem o amor a pouco mais de duas palavras. Não é fácil 
descrever algo que não tem descrição, tese defendida por aqueles que 
julgam sentir o amor verdadeiro.
 A
 descrição do amor, para mim, é a condenação de Sísifo. Quando julgo ter 
atingido o seu significado, apenas consigo observar a futilidade das 
palavras que usei e sinto-me compelida a começar tudo de novo. A única 
conclusão a que cheguei, apesar de ser apenas um conceito lato, é a de 
que o amor, a vida e a morte andam sempre de mãos dadas. Há quem diga 
que o amor é, por si mesmo, a vida. Porém, há também quem afirme que amor
 verdadeiro é suicídio. Não sei qual das hipóteses é a mais acertada; a 
única coisa que sei é que o amor verdadeiro é resistente à realidade, a 
realidade que muitos indicam como sendo a responsável de todos os males. Ao 
que os outros chamam de realidade eu chamo de tempo, pois é ele o único 
capaz de diferenciar o que é verdadeiro daquilo que é apenas uma mera 
inclinação. Seria de esperar que a felicidade proviesse do amor, porém 
não podemos ser cínicos e ocultar toda a dor que daí advém, essa dor que
 nos dilacera vezes e vezes sem conta, sem que nada possamos fazer, pois
 não é uma dor física e ninguém nos pode ajudar. Talvez o facto de 
ignorarmos a dor de cada vez que pensamos em amor é porque, em si mesmo, o
 amor é superior à dor e quando, finalmente, o alcançamos, esquecemos toda
 a dor que passámos, e que vamos voltar a passar, porque nada é eterno. Podemos 
tentar erguer muralhas em nossa volta, na tentativa de bloquear qualquer
 sentimento, mas na verdade não existe muralha que não contenha uma 
brecha da qual o tempo se encarregará de abrir profundamente, fazendo 
com que todos os esforços prévios fossem em vão. Nessa
 altura, o amor entra em cena na nossa vida, tornando a nossa história 
igual a uma história de amor de Shakespeare e é no seu auge que cai o 
pano sem direito aos últimos aplausos. Voltamos ao nosso mundo, feridos e
 desiludidos, jurando nunca mais amar. Porém, no momento em que já não 
acreditamos nele e nos resignámos que não existe, é quando nos aparece 
outra vez na nossa vida exigindo total entrega. 
     Amor. Sofremos, lutamos,
 choramos, sonhamos e perseguimos o amor na procura do sentimento 
fulcral da vida. Felicidade. Mas, no meu ponto de vista, a felicidade não
 existe, só existe resignação à condição em que nos encontramos e, mesmo 
assim, o ser humano nunca se contenta com aquilo que tem, quer sempre 
mais e mais; tornando assim a resignação curta, compelindo-o a iniciar 
outra vez a busca pela dita felicidade.
     Se
 o amor verdadeiro existe, não sei. Neste momento, acredito que tal coisa
 não exista, acredito que seja apenas um mito que nos permita ter 
esperança que algo de fenomenal nos pode acontecer, que é o caso de 
encontrar a alma-gémea. Talvez só tenho esta opinião, porque ainda não 
encontrei o amor verdadeiro, talvez quando o encontrar toda esta atitude
 de descrença seja ridícula. Talvez. ÂNGELA, 11ºA

1 comentário:
Gostei das citações. E gostei tanto da relação com o mito de Sísifo (esse atrevido!... e não é que o amor também tem algo de atrevido, de desafiador?)
Disseste: "o amor verdadeiro é resistente à realidade", mas, faz sentido o amor fora da realidade?
Mas sei ao que te referia, e esgrimiste bem os argumentos sobre o Tempo.
Gostei, Ângela :)
(atenção à pontuação!)
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